quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Meu futuro promissor.
Eu sei que não tenho lá um vocabulário impecável, mesmo considerando o fato de ter lido bastante este ano. (Hahaha o que eu quis dizer com isso?) Principalmente livros com escrita complicada, composta por palavras que te fazem consultar o "pai dos burros", o dicionário, várias e várias vezes. Sei lá o que acontece comigo... Ou sei. Não importa! Quero somente escrever um texto decente que possa ser lido, mesmo não sendo aquele tipo de texto que dá gosto de ler. Por eu já desconfiar que, só por este começo, não será tão saboroso assim nem pra mim... Tá, vamos ao texto, certo?
Ontem eu recebi um telefonema. Era de meu pai... Vou explicar a nossa relação de "pai e filha" antes. Na verdade, nem sei se isso vai ajudar a não deixar o texto confuso, mas eu sinto que preciso.
Bem, desde pequena eu não via com frequência os meus pais. Eles são divorciados. Minha mãe trabalhava o dia todo, mas depois que ela começou a fazer faculdade, nem de noite eu a via. E a cada 15 dias eu saía com meu pai. Porém, eu não ligava, nunca cobrei presença dos dois, mesmo porque, naquela época, eu não tinha a mínima noção daquilo, do que era certo e errado no que faziam e muito menos que a consequência disso cairia sobre mim.
Não, ao contrário de alguns amigos meus, eu não fui uma criança prodígio. Só tirava notas altas nas matérias escolares (essa fase acabou após eu entrar no fundamental), mas era uma verdadeira tonta nas questões sociais. Talvez, se eu tivesse sido criada pelos meus pais, eu seria outra pessoa... Talvez.
Meu pai é o ser humano mais pacato que conheço, ao contrário de minha mãe que gritava (e ainda grita) comigo (mas hoje em dia eu revido, às vezes). Meu pai nunca elevou o tom de voz. Ela me dava beliscões, chinelada e puxões de orelha. Ele nunca ergueu a mão contra mim... Ele dizia que queria respeito de mim, não medo. Talvez, creio eu, ele soubesse que, apesar da distância e do não convívio, ele era importante para mim.
Então, ontem eu fui bombardeada por perguntas que, se fossem feitas por outra pessoa e num tom diferente eu teria soltado os cachorros pra cima da fdp, com toda certeza, mas não. Eu fiquei triste por terem vindo da fala calma... A do meu pai.
Ultimamente eu venho me admitindo muita coisa, como ser uma pessoa sem futuro. Sem expectativa. "Um bicho sem sonhos". Sabendo disso, meu pai reclamou os por quês: "Por que você não está estudando, fazendo faculdade? Por que você não procura o que gosta de fazer e corre atrás disso pra ser alguém bem sucedido na vida? Por quê, minha filha?".
"Não me ligou no meu aniversário e nem em dia algum, sumiu do mapa e quando aparece me questiona?"... Se eu fosse outra pessoa, certamente o responderia dessa forma. Mas, realmente, não era uma bronca que ele me dava ao telefone, foi mais um daqueles "acorda pra cuspir!". E ele levantou uma questão que já invadia a minha mente há algum tempo. "Se você, minha filha, não crescer (profissionalmente), e eu não estiver mais aqui em vida, com quem você vai contar?". Eu tenho consciência disso, mas ele me dizendo foi ainda mais assombroso. Ele me deixou sem fala, não aguentei e chorei feito uma criança que acabara de estourar o joelho.
Meu pai tinha razão e eu não pude me defender porque nem eu mesma cogitei em fazê-lo. E além de seus questionamentos, ouvi também confissões, lamentações por não ter sido um pai mais presente. Eu disse que não fui criada por eles, ele me deu razão. Foi um erro que cometeram, mas não os culpo, pois agora eu poderia fazer tudo diferente. Estar estudando na faculdade. Trabalhando. Sendo o orgulho dos pais. Do meu pai.
Mas eu não sou, porque nada fiz para ser. E ao falar com ele, me doeu o peito por perceber que sou uma péssima filha. Eu errei também.
Sei que nada vai mudar só por eu ter arrumado algum emprego. Minha mãe vai continuar a cometer erros (talvez os mesmos erros, o que é pior) com o caçula. Meu pai vai continuar a morar longe e ligar de vez em quando. E minha irmã e eu, ou continuaremos na mesma, ou a situação vai piorar drasticamente. Eu me pergunto, qual é a vantagem? Dar uma lição de moral em toda minha família não a fará mudar. Sei do que estou falando. Nada vai mudar.
No entanto, sinceramente, não quero que os questionamentos dele sejam em vão.
Por ele, eu farei alguma coisa por mim.
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