segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um dia a menos na vida e um a mais na morte...

Alguém me disse isso no dia do meu aniversário. Mórbido para se dizer num "dia especial"? Não. Eu não acho. Isso nos faz pensar que é verdade, afinal. A cada ano que passa mais próximo da morte se fica. Eu já não me preocupo tanto com a morte, mas sim como vou morrer. Mesmo porque a morte não é algo evitável. Nem os superes e somente heróis escapam dessa "fatalidade"...

Costumam-se inventar (ou "descobrir") teorias de como é a vida pós morte. Ou sobre o que é a morte e como é morrer... e porque isso ou aquilo... enfim, p'ra mim, basta estar vivo p'ra tal acontecimento ocorrer. Só que eu tomei a liberdade de também criar uma teoria de como deve ser morrer, ou melhor, o processo em vida e em morte e o que acontece. Vou tentar explicar;
Uma determinada pessoa morreu com, por exemplo, 27 anos. Bom, obviamente ela viveu esses 27 anos, não importar se foram ou não bem vividos, no final das contas tudo acabou, ela morreu. Agora, morta, essa pessoa, em "espírito", passará 27 anos em morte. Sei lá, revendo sua antiga vida como se fosse um filme longo, notar pessoas, fatos e coisas que antes não deu importância. Como se quisessem (sabe lá Deus quem são, deixo à critério) passar à ela uma lição; "nem sempre as coisas de mais valor são essenciais", supondo que ela, essa pessoa de 27 anos agora morta, era muito materialista e não deu atenção para "as coisas simples da vida". Tudo isso acontece antes de retomar uma outra nova vida, para ser uma outra nova pessoa na terra. Sim, é uma espécie de reencarnação... Só um pouco cruel na minha concepção, porque o "espírito", antes de retornar à terra, saberá como vai morrer nessa vida seguinte, porém, não será capaz de levar isso ao consciente. É sabido o fato de que todos vão morrer, entretanto, no caso que apresento em minha teoria, é como se inconscientemente sabemos como vamos morrer também, só não somos capazes, muita das vezes, de lembrar. Há exceções, que são aquelas pessoas que "prevêem" fatos antes de acontecerem. Como todos, elas já sabiam inconscientemente de como iriam morrer, porém, conseguiram elevar esse conhecimento para o nível da consciência. E os excepcionais, que conseguem prever acontecimentos alheios.
To sendo prolixa... mas é mais ou menos assim. E reparou que não foi citado nada sobre Céu e o Inferno? Pois é, na minha teoria não existe o Reino dos Céus e o Ardente Inferno, como são ditos na bíblia, o que não significa que eu não acredite em Deus e que não há um paraíso reservado para as boas almas e um outro, de lamentações eternas, para as almas arrependidas, é porque não seria justo usar esses termos nela, na teoria...

E aí, isso faz ao menos algum sentido p'ra você?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Diálogo Cotidiano

Eu: *atchin*.
Ela: - Nossa! Pensei que fosse meu celular tocando...
Eu: - Você tem um toque de espirro no seu celular?
Ela: - Foi você que espirrou?

Isso foi engraçado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um conto qualquer - parte III - final

Guardei meu celular no bolso, levantei as mangas da minha camisa até os cotovelos para alguma eventualidade e por me sentir mais seguro dessa forma, e me levantei da poltrona quando a porta do banheiro se abriu. Imaginei que meu paciente sairia como um assassino alucinado e voaria no meu pescoço... Não, mas nada disso aconteceu. Ele voltou ao estado inicial, tranquilo. Como quando acaba de fazer uma terapia do riso. Fui até a janela calmamente e as abri. O consultório estava bastante abafado, e precisava de um ar novo já que a atmosfera que a situação exigiu para aquela conversa aparentemente dava sinais de mais serena, e foi nesse momento em que ele falou:
- Quero que conte ao meu pai o que aconteceu hoje caso algo de ruim aconteça comigo.
- Não vai acontecer algo de ruim contigo. - disse ao terminar de observar a cidade pela janela.
- É engraçado como o senhor tem uma certeza para todas as coisas. - dizia enquanto guardava seu canivete no bolso da calça jeans. Nunca foi intenção mentir que eu era capaz de prever o que podia ou não acontecer com o outro. Ou iludi-lo ao dizer que tudo ficará bem quando não vai. Só acreditava que nada realmente de ruim aconteceria naquele momento com ele porque sabia que a ambulância estava a caminho, que seria levado a uma clínica especializada, onde seria medicado e tratado em segurança, longe o bastante daqueles que lhe fazem verdadeiro mal. Apenas era necessário mantê-lo no consultório até que tudo isso se concretizasse. Só não sabia que ele já sabia disso, e continuou. - E por mais que tente me manter aqui com alguma conversa fiada, antes disso, eu previ que você chamaria os seguranças dos doidos... ou se seria por medo de te ferir como fiz com o outro ao saber da história, ou por achar que seria possível eu vir a considerar o suicídio como um "fim dos meus problemas mentais!"... enfim, isso não me importa. Mas eu não vou ficar... O senhor precisa ir p'ra sua casa, também. Ela deve está bastante nervosa com a sua demora. - começou a andar calmamente até a porta. Tentei intervir avançando alguns passos até ele, mas fui surpreendido com a rapidez que ele teve de se armar. Apontou o canivete para mim, dizendo. - Não vou te machucar, doutor... A não ser que insista na burrice em me impedir de sair.

Como pude ter sido tão negligente com esse rapaz?
Não me lembro de ter trancado a porta, não me restou mais nada a fazer. Ele se foi. Me certifiquei que horas davam no meu relógio. Eram 2hs59mins... 3hs00mins da manhã. Meu celular tocou. Casa. Esposa. Atendi.

Conversei em seguida com os enfermeiros, relatei que não fui capaz de prendê-lo dentro do consultório, pois o rapaz possuía uma arma branca, um canivete de tamanho médio. Me perguntaram se estava ferido; não, estou bem. O rapaz foi espancado por alguns moradores do bairro onde mora, ele só quis se defender, eu disse. Saímos do consultório, acompanhei os enfermeiros até a ambulância e me despedi, voltei em direção ao meu carro quando ouvi um dos enfermeiros falar: "(...) mais um demente a solta no mundo matando gente inocente." Tornei a me virar, olhei para ambulância que saía do estacionamento. Não reconheci quem pronunciou aquela bizantinice, e nem o faria depois, certamente. Mas me bateu a vontade de perguntar quem eles achavam que agiu como louco nessa história toda; o rapaz ou "os outros"? O psicótico diagnosticado ou os ignorantes ditos sãos?
Voltei para casa, contei o ocorrido e discuti sobre o assunto com a minha mulher pelo resto da madrugada, pois achava piamente que devia por conta própria o procurar pela cidade e fazer realmente alguma coisa por ele. Ela me convenceu a ficar quieto.

Amanheceu o dia. E só consegui dormir por duas horas. Minha mulher, creio eu, nem dormiu. Ouvi o som da televisão e o segui até chegar a sala. Falava sobre o trânsito. A notícia seguinte me fez sentar no sofá violentamente.
"Um rapaz de 23 anos, ainda não identificado, foi encontrado morto às 5hs de hoje na ponte Estaiada, na Marginal Pinheiros Zona Sul de São Paulo. Tudo indica que o rapaz foi brutalmente espancado e pendurado num dos lados da ponte pelos agressores. Acredita-se que pode se tratar de mais de dois responsáveis pelo assassinato. Um canivete foi encontrado no bolso da vítima pela perícia, nele havia sangue de um suposto agressor e supõe que a vítima tentou se defender."
Não precisou de imagem alguma nem mesmo aérea para saber de quem a jornalista falava. Meu paciente foi morto pela ignorância alheia. Perdi minhas forças ali, na hora. Não consegui imaginar trabalhando após essa loucura. Senti meu estômago doer, como se tivesse levando uma saraivada naquele exato momento.

Fui até a polícia, contei-lhes o que sabia, o que aconteceu algumas horas atrás. Exatamente tudo, cada palavra que me foi dita e acenada naquela noite. Relatei cada passo dado naquele consultório. E quem supostamente participara das agressões contra o rapaz. Precisava deixar a minha consciência tranquila, mais do que nunca. Logo depois do meu depoimento, me encontrei com o pai do meu falecido paciente no corredor, sentando à espera de alguém que lhe dissesse que tudo não passara de um grande equívoco. Compreesivamente abatido. Não se dera conta que essa tragédia poderia acontecer com um filho seu. Criei coragem de me aproximar daquele debilitado senhor, que já não se via mais em seus olhos outra coisa além da profunda angustia que lhe foi imposta. Resolvi lhe contar as últimas palavras do meu paciente, seu filho; "Foi o melhor pai do mundo, até mais que eu merecia. E fez o que pôde..." Ele assentiu brevemente. Não era preciso dizer mais nada, estávamos distantes mesmo perto, e então, só o que nos restou foi o silêncio da distância que a cada passo dado meu, ficou bem maior entre nós.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um conto qualquer - parte II

- Esclareça-me mais uma coisa... - do meu paciente não saiu sequer uma palavra. Respondia ora assentindo, ora discordando com a cabeça. Não me importava, precisava saber todos, se possível, os detalhes da briga e o que ele fez antes de chegar aqui. Enquanto isso, me peguei rezando para que ele não tivesse cometido nenhuma atrocidade. - Você revidou?
Novamente ele assentiu com a cabeça. Gelei. Caiu um raio bem próximo. Primeiro a luz, depois o som. O barulho foi tão terrível que me fez afastar da onde estava. Meu paciente, tive a impressão, que nem se moveu, mas nessa hora ele olhava diretamente pra mim.
- Como revidou? - finalmente ele se mexeu. Se dirigiu para perto da mesinha de centro, ao lado do divã. Fez que sentaria na beirada do móvel estofado, e num movimento rápido, depositou um objeto pontiagudo na mesinha de madeira, que me pareceu sair de dentro da manga direita da jaqueta. Ele olhava para mim o tempo todo durante seu movimento. Queria observar minha reação desde o início, pensei. Eu fiz o mesmo, observei meu paciente. Acabei notando que sua mão e a manga, a qual estava sobre a mesa de centro, estavam sujas. Me pareceu sangue. Ok, seu rosto estava machucado, talvez ele limpou o rosto justamente com essa manga, e consequentemente, sujou a mão... Ou não. Calmamente meu paciente retirou a mão de cima do objeto que estava fincado na mesa. Era um canivete. Igualmente sujo. De sangue. Era a sua resposta.

- Não... você não... - não conseguia pronunciar as palavras corretamente e nem as fazer sair de minha boca. Com as mãos dentro dos bolsos, ele deixou escapar um riso de deboche. Fiquei atônito.
- Não consegue mais falar, doutor? - sua calma me deixava nervoso e ele sabia disso. A verdade era que eu queria sair correndo até a mesinha, tirar aquele canivete dali, ir ao telefone e chamar a polícia, mas precisava me manter racional mesmo estando à beira do pânico. Ele era bem mais jovem do que eu, mais ágil também. Perderia fácil no quesito rapidez.
- Não consigo acreditar que você foi capaz de... Matar alguém! - meu paciente sofria de transtorno psicótico agudo. E há três anos atrás, foi pego ao lado de duas crianças brincando com facas. Uma mulher aos berros, dizia que o viu ameaçando as crianças. Ele tentava se defender dizendo que fingiam que as facas eram espadas, que era uma brincadeira. Ele foi internado, saiu faz um ano e meio. Para uma pessoa normal, isso é um verdadeiro absurdo, entretanto, para quem sofre de transtorno psicótico, não. Porque há uma carência de visão crítica que leva o indivíduo a não reconhecer o caráter estranho de seu comportamento. Por mais que pacientes com psicose não têm noção real de perigo e do que estão fazendo, muitas vezes eles não têm a intenção maldosa de, por exemplo, cometer um homicídio. Ao menos, eu acreditava nisso.
- Não! Não matei ninguém! - durante todo o tempo daquela conversa, meu paciente não foi tão incisivo como foi ao dizer que não havia de fato matado alguém. Aquilo me aliviou, e me deixou confuso. Ele franziu a testa ao me contestar. A pior hipótese dessa história toda, era que ele estivesse mentindo.
- Por favor, não quis ofender, mas qualquer um pensaria isso ao te ver com esse canivete, sujo de sangue... Enfim... Já conversamos sobre os possíveis comportamentos que levam as outras pessoas julgarem mal...
- Eu sei, mas não foi o que fiz. Só me defendi. - convicção na fala. Posso confiar. Na verdade, pacientes psicóticos não costumam lembrar de tudo o que fizeram. Portanto, não posso. Não ainda.

Respirei fundo pela primeira vez. Resolvi mostrar a ele que acreditava nele, portanto, me aproximei da minha poltrona e me sentei. Acabei notando que já passava das duas da manhã, e a chuva já tinha passado também. Minha mulher devia estar muito preocupada, mas se houvesse luz no bairro, ela já teria me ligado ou no celular, ou no consultório.
- Tudo bem, eu compreendo.
- Esse sangue não é meu. Ele entrou na minha frente, só empunhei a faca e ele entrou na minha frente, mas ele correu. Fugiu. E eu vim pra cá.
- Como é? Não é seu esse sangue em sua mão? - mesmo sido pego de surpresa, estava certo em não confiá-lo totalmente. O ferido podia estar morto naquele momento - Repete... Ele entrou na sua frente, você o feriu, é o que quer dizer?
- Acho que eu o feri, mas ele está bem. Eu não o matei se é o que quer saber. - levei minha mão ao bolso direito da calça, meu celular estava lá. Mudei de posição discretamente para o lado, e me preparei para ligar para a clínica psiquiátrica a qualquer momento. Lembrei-me de perguntar a ele se deixou de tomar os remédios, ele não me respondeu. - Ele vai ficar bem, e voltará a me bater, junto com os outros... - meu paciente já não estava mais calmo. Talvez por ter percebido que o fato deles, os outros, como ele mesmo os tratava, voltarem a lhe bater seria bem mais provável do que alguém o levar a sério. Levei a outra mão à testa. Não me lembro do momento em que comecei a suar.
- Você não tomou os remédios... esfaqueou sabe lá quantas pessoas...
- Um cara, e não disse que não tomei. - ele, outra vez, me interrompeu. Num tom mais agressivo.
- Mas não disse que tomou. - temi que ele agisse com violência e que eu não pudesse manter o controle da situação. Ele se levantou, e se dirigiu ao banheiro.
- Vou lá... - simplesmente disse e andou.
- Tudo bem. - ouvi o bater de porta.
Olhei para onde havia um canivete. Ele não estava na mesa.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um conto qualquer - parte I

Inverno. São Paulo - chuva forte. 23hs46mins.
No consultório.



Era para terminar o expediente mais ou menos às três horas atrás, mas meu último paciente exigiu mais disponibilidade de tempo. Do meu tempo. Quer dizer, achei que seria meu último paciente...
Estava desesperado quando o que seria o último paciente foi finalmente embora. Não tinha conseguido até àquela hora ligar para minha mulher avisando que me atrasaria para voltar para casa, e lhe contar o ocorrido. E também, como todo paulistano sabe; São Paulo pára quando cai uma gota. E para piorar a minha angustia, o telefone da minha casa aparentava problema. A gravação anunciou que a linha estava temporariamente fora de serviço - ou seja, era fácil deduzir que não havia energia no bairro. Resolvi me aventurar, enfrentar a chuva na volta p'ra casa, fosse a hora que fosse. Logo, depositei minhas chaves no bolso direito da calça, como de costume. Peguei o meu casaco no bengaleiro e me direcionei à porta. Deveria ter notado no chão, perto da porta uma sombra, como um obstáculo entre o espaço do rodapé onde a luz do corredor, que se projetava, era impedida de atravessar. Eu devia ter notado que havia alguém atrás da porta só esperando que a mesma fosse aberta. Devia, mas não fui tão cauteloso. Apaguei a luz. Abri a porta.

Minhas pernas fraquejaram. Senti meu estômago revirar inúmeras vezes. E o frio despencou da cabeça aos pés quando vi o vulto a minha frente, que aos poucos tomou forma de uma pessoa. Tudo isso numa fração de segundos. Era um rapaz, o meu mais novo paciente. Após o susto, notei que ele estava encharcado. Os pingos que caíam das mangas de sua jaqueta faziam um som agradável ao atingirem o carpete tufado à prova de manchas, recém colocado.
- O que está fazendo aqui à essa hora? Sabe que meu horário acabou faz um tempo... - estava muito cansado, mas eu teria que saber o motivo da presença do rapaz. Sei que seria anti-ético deixar de ajudar um paciente, mesmo sendo fora de hora e se, obviamente, o caso demonstrasse uma extrema urgência. Entretanto, no caso do rapaz, eu ainda teria que julgar a gravidade da situação. Ele sangrava pelo nariz.
- O que ainda faz aqui então? - ele retrucou. Observei no seu rosto, mesmo contra a luz do abajur no corredor, que talvez acabara de chegar de uma briga. Seu lábio inferior estava grosseiramente inchado e no canto do mesmo havia um corte que começou a sagrar depois que ele esfregou a mão molhada em sua boca. Julguei a situação como sendo Inusitada à Séria, a qual precisava de uma conversa e de manter o paciente abrigado em segurança.
- Entra... você está sangrando. - não havia dúvidas que não voltaria tão cedo para casa.

Não houve diálogo até que ele entrasse no recinto, que eu lhe emprestasse a toalha de rosto que ficava no pequeno banheiro do consultório para que ao menos pudesse se enxugar e limpar o corte. Liguei a luz no consultório. Até então só havia gestos do tipo; apontar para a poltrona para que se sentasse. E a negação do pedido, o balançar brevemente da cabeça. Ficamos calados por alguns instantes, preferi deixá-lo a vontade para contar o que aconteceu. Nos permanecemos em pé.
- Eu não queria... - disse quase para ele mesmo, mas logo hesitou. E neste momento, temi que desistisse de me contar e que fosse embora. Eu precisava demonstrar mais interesse e preocupação com o seu problema, não que eu já não estivesse.
- Não queria o quê...
- Não queria brigar. - e ele me interrompeu. Aparentemente estava calmo, o que de fato não era para ser normal, já que obviamente ele foi espancado, outra vez. - Eles voltaram...
Eu já sabia do que se tratava e essa não foi a primeira, ou a terceira vez que ele chegava praticamente arrebentado ao meu consultório, contudo, dessa vez, havia algo em seu olhar que me perturbava, só não sabia o que era. Ou tinha certo medo de saber, bem da verdade era essa. Ele havia me contado que era hostilizado por algumas pessoas da vizinhança da qual morava. Elas não entendiam seu problema, não acreditavam que ele não era de fato um maluco, que se tratava de uma pessoa necessitada de cuidados e compreensão, mas a ignorância as faziam agir da pior forma, com violência. O que não dá para entender é que, em pleno século XXI, ainda existam pessoas desprovidas de bom senso a ponto de agirem como animais umas com as outras.

- Acredite, eu sei que você não brigaria com qualquer um sem o propósito de se defender, mas o que exatamente aconteceu? Foram os mesmos que te bateram na semana passada? Eu posso... - uma imagem se impregnou na minha mente; era uma cena. Cinco pessoas num lugar parecido com uma quadra de futebol. Tinha algumas nuvens pesadas, escuras, só com um pedaço de céu limpo que se via a lua, apesar da chuva, iluminando o local. Não se via rostos. Só os seus contornos, vultos, que estavam aglomerados ao redor de um outro vulto que se encontrava deitado no chão. Apanhava das sombras, a sombra caída. De repente, ouviu-se, além dos chutes, da respiração ofegante, gemidos de dor, gritos de raiva daquelas criaturas, um tiro. Todos se afastaram, exceto o que foi atingido pelo tiro. Mais um caído. O que levava a sova, se levantou com algo metálico na mão. O reconheci como sendo o meu paciente. E ele logo descarregou a arma em cima dos vultos desesperados, que caíam... caíam... Um por um. - te ajudar...
- Eu sei que pode. - se manteve imóvel perto do divã, em pé. De cabeça baixa, mas sem sinal algum de tristeza ou arrependimento em sua postura. Me preparava para o pior, ouvir dele exatamente aquilo que imaginei. Uma chacina. - Por isso estou aqui, doutor.

sábado, 7 de agosto de 2010

A volta... e pensando em aluguel

Será sincero da minha parte dizer que não é definitivamente.
É um desabafo cotidiano.


As coisas melhoraram pra mim, se querem (?) saber, porém, por um tempo. Assim como aconteceu, acabou. Bem rápido
- como é um assunto muito pessoal, vou deixá-lo oculto. Talvez não era pra ser. Quer dizer, não era mesmo pra ser. E nesse meio tempo as coisas que antes estavam boas ficaram um pouco ruins, entretanto, ainda está suportável. Ok, não vim aqui fazer drama. Só queria escrever o que está entalado na minha garganta até agora.

Me peguei pensando em sair de casa quando liguei o PC. Quero viver sozinha definitivamente! Tomar conta das MINHAS coisas, ser responsável pelos MEUS atos, não que eu já não seja, mas queria provar pra mim mesma que eu daria conta de uma casa sozinha. E, bem, também não só por isso. É que a relação com um ente, que já não era lá essas coisas, se tornou pior uns dias para cá quando soube que essa pessoa, que eu jamais pensei que agiria de uma maneira tão mesquinha, a fez. Foi uma grande decepção.

Enfim, há duas semanas atrás minha mãe viajou e antes, me pediu para ficar no apê pra cuidar da sua gatinha, a Sofia. Claro que aceitei. Ficar longe de casa por todo esse tempo sem ouvir uma reclamando que eu não a visito, os bater de porta da outra que está estressada porque acha que tem uma vida de merda, cachorros latindo alto sem parar porque pularam na laje pra pegar pipa, que o gás, comida, a luz e a água acabou, que brigou com aquela que se dizia "amiga", que eu preciso dar uma dura na outra porque é minha "obrigação" - só não sei desde quando -, que preciso abrir a janela do meu quarto de vez em quando... e por aí vai. Longe de tudo isso, cara, foi uma maravilha. Poxa, não preciso dizer que não moro sozinha nessa casa doida. Todos devem cumprir suas obrigações, não cabe só a mim. Gostam de jogar na cara coisas do tipo; "a casa não é sua, é minha! Tudo isso aqui é meu." e blá blá blá... por que não fazem jus ao que dizem?

Bom, essa minha pergunta cabe a eu responder também. A casa não é minha, então o que faço aqui? A resposta, que alias, já havia dito lá no começo deste texto, é simples. É ir embora. Sair desta casa, ter as MINHAS coisinhas. Adorei as duas semanas que passei sozinha no apê da minha mãe. A solidão completa, sendo intencional, ajuda a te tornar uma pessoa mais paciente, mais tolerante consigo mesmo. E você não terá a infeliz oportunidade de descontar a sua raiva em alguém pra depois te chamarem de injusto. Vai acabar aprendendo a lidar com os erros... com os seus erros. Isso é muito bom. É o que eu quero pra mim.

Quanto deve estar o aluguel de dois cômodos?